Veritas Ipsa

sábado, 25 de dezembro de 2010

O QUE É RELATIVISMO?


Você e eu possuímos verdades diferentes? Você tem algum direito de me impor os seus valores? Conheça o perigo de se aceitar uma tendência que entende inexistentes as normas de conduta universais para todos os seres humanos

"As condições de sobrevivência da humanidade não estão sujeitas a votação; são como são" (Robert Spaemann)

EXISTEM VALORES ABSOLUTOS?

Diz Peter Kreeft que certo dia, durante uma de suas aulas de ética, um aluno disse-lhe que a moral era algo relativo e que ele, como professor, não tinha o direito de impor [aos outros] os seus valores.

"Bem, - respondeu Kreeft, para iniciar um debate sobre aquela questão - vou então aplicar à classe os seus valores e não os meus. Você diz que não há valores absolutos e que os valores morais são subjetivos e relativos. Já que as minhas ideias pessoais são um tanto singulares em alguns aspectos, a partir deste momento vou aplicar esta: todas as alunas estão suspensas".

O aluno ficou surpreso e protestou, dizendo que aquilo não era justo.

Kreeft lhe perguntou: "Para você, o que significa 'ser justo'? Porque se a justiça é apenas o meu valor ou o seu valor, então não existe nenhuma autoridade comum entre nós dois. Eu não tenho o direito de impor para você o meu sentido de justiça, mas você também não pode me impor o seu...".

"Portanto, apenas se existir um valor universal chamado 'justiça', que prevaleça sobre nós, você poderá apelar a ele para julgar injusto que eu suspenda todas as alunas. Mas se não existirem valores absolutos e objetivos fora de nós, você apenas poderia me dizer que os seus valores subjetivos são diferentes dos meus e nada mais".

"No entanto - continuou Kreeft - você não está me dizendo que não gosta do que eu faço, mas que é 'injusto'. Ou seja, que quando você parte para a prática, então acredita em valores absolutos".


NÃO ME IMPONHA A SUA VERDADE

Os relativistas e os céticos consideram que aceitar qualquer crença é algo servil, uma torpe escravidão que coage a liberdade de pensamento e impede uma forma de pensar elevada e independente.

No entanto - como dizia C. S. Lewis - ainda que um homem afirme não crer na realidade do bem e do mal, mais cedo ou mais tarde o veremos contradizer-se na vida prática. Por exemplo: uma pessoa pode não cumprir sua palavra ou não respeitar o combinado, argumentando que isto não tem importância e que cada um deve organizar sua vida sem pensar em teorias. Porém, o mais provável é que não demore muito em argumentar, referindo-se a outra pessoa, que é indigno que ela não tenha cumprido [para com ele] as suas promessas.

Quando os defensores do relativismo falam em defesa dos seus direitos, costumam a se desprender de todo o seu relativismo moral e condenar categoricamente a objetiva imoralidade daqueles que pretendem causar-lhes dano. E se alguém lhes rouba a carteira, ou lhes acerta um tapa, o mais provável é que esqueçam o seu relativismo e assegurem - sem qualquer relativismo - que isso é algo muito mal, diga o que disser quem quer que seja (sobretudo se quem o diz é o próprio ladrão ou agressor). Ora, se a palavra dada não tem importância, ou se não existem coisas tais como o bem e o mal, ou se não existe uma lei natural, qual é a diferença entre algo justo ou injusto? Por acaso não se contradizem ao mostrar que, apesar do que afirmam, na vida prática reconhecem que existe uma lei da natureza humana?

O relativismo, ao não possuir uma referência clara à verdade, conduz à confusão global do que está certo e do que está errado. Se se analisam com um pouco mais de detalhes as suas argumentações, é fácil advertir - como explicar Peter Kreeft - que quase todas costumam a se autorefutarem:

- "A verdade não é universal" - exceto esta verdade?

- "Ninguém pode conhecer a verdade" - exceto você, pelo que parece.

- "A verdade é incerta" - mas não é incerto também esta sua afirmação?

- "Todas as generalizações são falsas" - e esta também?

- "Você não pode ser dogmático" - com esta mesma afirmação você está demonstrando ser bem dogmático.

- "Não me imponha a sua verdade" - agora é você quem está me impondo as suas verdades.

- "Não há absolutos" - absolutamente?

- "A verdade é apenas uma opinião" - na sua opinião, pelo que vejo.

Etcetera ad nauseam...


O BOXEADOR QUE NUNCA SOBE AO RINGUE

Quando alguém diz que é muito difícil ou quase impossível saber o que é verdade ou mentira, o que é bom ou mau, porque garante que tudo é relativo, adota uma cômoda postura em que simplesmente não precisa argumentar nada. Resolve qualquer debate ou discussão séria porque nega o seu pressuposto. Por isso, dizia Wittgenstein, é como um boxeador que nunca sobe ao ringue.

Ao invés de subir ao ringue, o que costuma a fazer na prática é, em um descuido retórico, fazer valer a sua própria verdade e o seu próprio conceito de bem. Isto porque também ele guarda muitas certezas, ainda que talvez não as tenha percebido, por estar demasiadamente ocupado em acusar os outros de dogmatismo.

O que o relativista costuma a olhar com suspeita não são as certezas, mas as certezas dos demais.

Deixar-se-iam operar por um médico-cirurgião se não estivessem seguros de sua competência [médica]? Embarcariam em um avião de certa companhia aérea se fossem manifestadas incertezas acerca da segurança daquele voo? Todo homem, por natureza, busca sempre as certezas.

Segundo Christopher Derrick, a apoteose do relativismo pode ser devida a essa impressão - vaga, porém persuasiva - de que expressar dúvida é um sinal de modéstia e democracia, enquanto que falar de certezas se considera como dogmático e quase ditatorial.

No entanto, o relativismo não pode ser levado às últimas consequências. Por isso, Ortega dizia que:

"O relativismo é uma teoria suicida, pois quando se aplica a si mesma, morre. Na maioria das vezes, o relativismo é uma espécie de posse acadêmica, uma cômoda evasão da realidade".


DÃO NO MESMO TODAS AS RELIGIÕES?

Charles Moore, diretor do "Sunday Telegraph", relatou há alguns anos sua conversão ao Catolicismo.

Moore procurava a verdadeira religião, ante o assombro de seus amigos que lhe diziam que todas as religiões são iguais e que a única coisa importante era o desejo de fazer o bem. Ele discordava completamente e respondia:

"Isso seria como se alguns médicos se reunissem em torno de um paciente e concluíssem: 'Bom, todos nós queremos que ele melhore; portanto, todos os [diferentes] tratamentos que lhe prescrevermos serão igualmente bons'. No entanto, é óbvio que isto não ocorre. Encontrar o tratamento adequado pode ser questão de vida ou morte".

É certo que pessoas de religiões diferentes recebem alento de suas [respectivas] crenças e o ensinamento para se tornarem melhores. Todas as religiões distintas da verdadeira contêm e oferecem elementos de religiosidade, que procedem de Deus e que refletem um lampejo daquela Verdade que ilumina todos os homem. Porém, a partir disso deduzir que todas as religiões são iguais, que dá na mesma tanto uma quanto outra, seria deduzir ao excesso.

Na hora de escolher a religião, deve-se perguntar sobretudo qual das portas é a verdadeira e não qual delas nos agrada mais por seus enfeites ou atrações externas.

Não basta a boa intenção, já que não se pode esquecer quanto mal ocorreu na História em nome de opiniões e boas intenções.

Cada homem tem a obrigação - e também o direito - de buscar a verdade em matéria religiosa, a fim de que, empregando os meios adequados, chegue a formar juízos de consciência retos e verdadeiros.

- Então o que importa para a salvação é viver conforme a própria consciência...

Quando se fala em viver conforme a consciência, alguns o compreendem como um simples viver segundo o que cada um subjetivamente pensa, como se nas questões religiosas e morais não houvesse nada objetivo. Porém, nem sempre basta seguir a consciência, já que às vezes a sua voz pode ser afogada ou ainda equivocada. Por exemplo: Hitler escreveu, poucas horas antes de morrer, que não se arrependia de nada, que de nada pedia perdão porque afirmava seguir de boa fé a sua consciência...

A consciência não é um simples reduto do subjetivismo, mas o lugar onde se da a abertura do homem para a verdade, para Deus. O homem, se procura, tem possibilidade de conhecer o caminho que o conduz à verdade.

E obedecer à consciência nesse caminho pode exigir um grande esforço. Supõe não deixar-se guiar apenas pelo que lhe agrada, mas olhar ao redor, purificar-se e ter o ouvido atento para ouvir a voz de Deus, para colocar-se a caminho da verdade.

Somente assim se pode compreender no que consiste a grandeza da fé. E as diferentes religiões podem subministrar elementos que nos conduzem a esse caminho, mas que também podem nos desviar dele.

- Então a Igreja não admite que o Cristianismo seja mais uma via de salvação entre muitas outras [vias]?

A Igreja sustenta que Jesus Cristo não é simplesmente um guia espiritual, ou um caminho a mais para Deus entre muitos outros, mas sim o único caminho de salvação.

- Mas isso não é uma afirmação um tanto arrogante de parte da Igreja?

Acredito que não. O natural é que fiel muçulmano reconheça Maomé como profeta, ou que um fiel judeu escute a Torah como Palavra de Deus. O que diz a Igreja Católica não supõe menosprezo nem falta de consideração pelas outras confissões religiosas. Afirma que Jesus Cristo é o único caminho de salvação, mas também diz claramente que Deus salva os não-cristãos que se fazem merecedores disto.

A salvação - para se dizer de um modo um tanto quanto informal - é monopólio de Deus e não dos cristãos. Deus dá a todos os homens luz e auxílio para se salvarem, fazendo-o de maneira adequada à situação interior e ambiental de cada um.

Autor: Anônimo
Fonte: www.encuentra.com
Tradução: Carlos Martins Nabeto