Veritas Ipsa

domingo, 21 de dezembro de 2008

IMAGENS DE ESCULTURA

A ACUSAÇÃO COMUM:

A Igreja Católica é idólatra porque possui em seus recintos imagens de escultura, as quais foram proibidas pelo 2º Mandamento da Lei de Deus (Êxodo 20).

A VERDADE, CÁ:



"O [1º] Mandamento divino incluía a proibição de toda representação de Deus por mão do homem. O Deuteronômio explica: 'Uma vez que nenhuma forma vistes no dia em que o Senhor vos falou no Horeb, do meio do fogo, não vos pervertais, fazendo para vós uma imagem esculpida em forma de ídolo...' (Dt 4,15-16). Eis aí o Deus absolutamente transcendente que se revelou a Israel. 'Ele é tudo' mas, ao mesmo tempo, ele está 'acima de todas as suas obras' (Eclo 43,27-28). Ele é 'a própria fonte de toda beleza criada' (Sb 13,3).

No entanto, desde o Antigo Testamento [o próprio] Deus ordenou ou permitiu a instituição de imagens que conduziriam simbolicamente à salvação através do Verbo encarnado, como são a serpente de bronze (cf. Nm 21,4-9; Sb 16,5-14; Jo 3,14-15), a arca da aliança e os querubins (cf. Ex 25,10-22; 1Rs 6,23-28; 7,23-26).

Foi fundamentando-se no mistério do Verbo encarnado que o sétimo Concílio ecumênico, em Nicéia (em 787), justificou, contra os iconoclastas, o culto dos ícones: os de Cristo, mas também os da Mãe de Deus, dos anjos e de todos os santos. Ao se encarnar, o Filho de Deus inaugurou uma nova 'economia' de imagens.



O culto cristão de imagens não é contrário ao primeiro mandamento que proíbe os ídolos. De fato, 'a honra prestada a uma imagem se dirige ao modelo original' (São Basílio, Spir. 18,45), e 'quem venera uma imagem, venera nela a pessoa que nela está pintada' (II Concílio de Nicéia, DS 601; cf. Concílio de Trento, DS 1821-1825; Concílio Vaticano II, SC 126, LG 67). A honra prestada às santas imagens é uma 'veneração respeitosa', e não uma adoração, que só compete a Deus:

'O culto da religião não se dirige às imagens em si como realidades, mas as considera em seu aspecto próprio de imagens que nos conduzem ao Deus encarnado. Ora, o movimento que se dirige à imagem enquanto tal não termina nela, mas tende para a realidade da qual é imagem' (S. Tomás de Aquino, Suma Teológica 2-2,81,3,ad 3)" (Catecismo da Igreja Católica, §§ 2129-2132).

AS SEMENTES DA VERDADE, LÁ:

I. "Na primavera de 1522 aconteceu, em Wittenberg, o início de uma das maiores catástrofes na história da humanidade. O conselho da cidade determinara a retirada das imagens das igrejas. Quando se começou a executar a decisão dos conselheiros municipais, a multidão reunida na frente da igreja da cidade invadiu o templo, arrancou as imagens das paredes, quebrou-as e terminou por queimar tudo do lado de fora. Em questão de minutos, uma paixão brutal destruiu o que para gerações de cristãos fora objeto de veneração religiosa. (...) Onde os iconoclastas passaram, os templos ficaram como lavouras após uma chuva de granizo. (...)

Igual a uma epidemia o iconoclasmo se alastrava por todas as regiões. (...) E o mais interessante é que são poucos os historiadores que se referem a ele, permitindo que o iconoclasmo continue a ser praticado até os nossos dias. (...) O terrível disso tudo é que cristãos, munidos de machados e martelos, se levantaram contra objetos sacros, em locais consagrados, ante os quais até há pouco se haviam ajoelhado. (...) Cristãos destruíram a linguagem da imagem que durante séculos havia orientado os cristãos. E o culpado pela destruição não foi o povo, mesmo que ele tenha realizado a ação; os culpados foram os pregadores que, a partir do púlpito, incitaram ao iconoclasmo. (...)

O mentor intelectual do iconoclasmo em Wittemberg foi Andreas Bodenstein, de Karlstadt. (...) Ardoroso em sua maneira de ser, mas falho no tocante à reflexão sobre a consequência de seus atos, Karlstadt assumiu a direção do movimento reformatório em Wittemberg enquanto Lutero se encontrava no Wartburgo. (...) No inverno de 1521/22, [Karlstadt] escreveu e publicou livreto com o título 'Da Eliminação das Imagens'. O livro é diminuto, tem poucas páginas, mas teve grandes consequências, provocando a destruição de muitas obras-de-arte. Segundo Karlstadt, não se pode tolerar imagens nas igrejas, pois afrontam o primeiro mandamento. Os 'ídolos de óleo' colocados sobre os altares, são invenção do demônio. Karlstadt tomou posição não somente contra esculturas, mas contra pinturas, a nova tendência na arte do Renascimento e da Reforma. (...) Há autores que consideram Karlstadt o primeiro puritano. Assim, o emergente puritanismo seria responsável pelo iconoclasmo. (...)

Um outro momento parece ser importante para entender a onda iconoclasta: o biblicismo. (...) Na Reforma se expressou a convicção de que somente a palavra havia de vencer. (...) Para o mundo da Reforma, que tomava o cristianismo primitivo como norma e exemplo, não podia haver lugar para a imagem. Não é de se admirar que parte considerável do protestantismo tenha assumido as concepções de Karlstadt e que Calvino tenha em sua 'Institutas' um capítulo dedicado a todos os argumentos que podem ser usados contra as imagens. (...)

Quais as consequências desse fato? O século XVI não mais entendeu a linguagem das imagens e, por isso, as destruiu, produzindo consequências caóticas e cegueira. (...) Com a retirada das imagens do interior das igrejas protestantes destruiu-se o pensamento simbólico tão constitutivo para o cristianismo. E o pensamento simbólico é pensamento religioso propriamente dito. É na linguagem simbólica que se expressa a experiência do espiritual. Quando essa forma de pensamento não-conceitual deixa de ser usada ou é ridicularizada, produz-se a destruição de uma das disposições religiosas do ser humano. Quando se destruíram as imagens, destruiu-se o elemento que deixa o que é cristão transformar-se em sentimento.

A imagem provoca e confirma o pensamento simbólico, sem o qual não se pode imaginar religiosidade viva. Observando imagens religiosas aprendemos a sentir simbolicamente. A melhor forma de introduzir crianças no mundo de concepções cristãs é através de imagens. Quando aprendemos a ver a imagem apenas como 'ídolo', destruímos a percepção para o pensamento simbólico. (...) Quando o ser humano não é mais capaz de pensar e de ver símbolos em uma tradição cristã viva, sua consciência religiosa fica esclerosada. (...)

No início, Lutero tinha dificuldades com as imagens e afirmava que seria melhor se não existissem. (...) Mas quando Karlstadt deu início à onda iconoclasta, nela nada mais viu do que vandalismo, que estava prestes a destruir a liberdade evangélica e a reintroduzir a lei. Por isso, Lutero passou pouco depois a afirmar que imagens são memoriais e testemunhos e como tais devem ser toleradas. Além disso, chegou a afirmar que, se pudesse, mandaria pintar toda a Bíblia dentro e fora das casas. Sua postura em favor da pintura e das imagens tornou-se mais do que evidente desde a publicação dos catecismos (1529).

As imagens movem a fé das crianças e dos simples. A fé cristã não se dirige, para ele, apenas aos ouvidos, mas também aos olhos das pessoas. (...) A arte sacra deve ser meditada, e meditação não é pensamento lógico. Meditar é silenciar para que Deus possa falar. Nos últimos 500 anos, em razão do iconoclasmo, o pecado humano não tem deixado Deus falar; só fala o homem" (DREHER, Martin N. "Coleção História da Igreja", vol. 3. São Leopoldo:Sinodal, 1ª ed., 1996, págs. 53-57).

II. Diversas denominações cristãs expõem para seus fiéis imagens de escultura, como podemos verificar em alguns exemplos:

1. Crucifixo de parede ortodoxo (comercializado pela The Celtic Rebel)



2. Igreja Luterana Cordeiro de Deus (Pleasant Prairie, WI, EUA) - Jesus recebendo o batismo de S. João Batista



3. Igreja Luterana Cristo Ressuscitado (Colorado, EUA) - Crucifixo perpétuo sobre o altar



4. Igreja Anglicana de Todos os Santos (Melbourne, Austrália) - Cristo crucificado tendo ao seu lado sua Mãe Maria e seu discípulo amado João Evangelista



5. Sede da Conferência Geral da Igreja Adventista do Sétimo Dia (Toronto, Canadá) - A Volta de Cristo (cf. Revista Adventista, de Agosto de 2000)



6. Sede da Conferência Geral da IASD (Toronto, Canadá) - Cristo Rei ressuscitado - Revista Adventista (ago/2000)



7. Templo Mórmon (Salt Lake City, UT, EUA) - Estátua de um anjo sobre o templo - Revista "Despertai" (08.11.1995)



III. Conforme o "Minidicionário Soares Amora da Língua Portuguesa" (São Paulo:Saraiva, 18ª ed., 2008):



- IMAGEM = "1. Figura que representa uma pessoa ou um objeto por meio de desenho, pintura, escultura, etc.; 2. Estampa que representa ordinariamente um assunto religioso; 3. Reflexo no espelho, na água, numa superfície polida; 4. Símbolo, figura".

- ESCULTURA = "1. Arte [humana] de esculpir, estatuária; 2. Obra de escultor".

- ESCULPIR = "1. Gravar, entalhar; 2. Deixar gravado, imprimir".

A partir destes simples conceitos objetivos, é possível afirmar categoricamente que até mesmo uma simples cruz (sem a imagem do crucificado) - confeccionada por arte humana em madeira, ferro ou qualquer outro material que proporcione uma visão em 3ª dimensão (isto é, com altura, largura e profundidade) - pode ser considerada como uma autêntica e legítima "imagem de escultura".

Neste sentido, boa parte das denominações cristãs (inclusive as acima exemplificadas) ostentam esta simples imagem de escultura à vista de todos os seus fiéis:

1. Culto público em uma Igreja Universal do Reino de Deus (Vera Cruz, México)



2. Culto público em uma Igreja Metodista (Ubatuba-SP, Brasil)



3. Culto público em uma Igreja Presbiteriana (Bebedouro-Arazede, Portugal)



4. E, para fechar com chave de ouro: Cruz decorada para culto de Páscoa na 1ª Igreja Congregacional de Webster Groves (EUA)



e os exemplos poderiam se multiplicar ao infinito...

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

A PRESENÇA DOS LIVROS DEUTEROCANÔNICOS DO A.T. NA BÍBLIA

A ACUSAÇÃO COMUM:

"A Igreja Católica acrescentou diversos livros apócrifos (=deuterocanônicos) no Antigo Testamento da Bíblia durante o Concílio de Trento (século XVI d.C.), para combater e desmentir as doutrinas protestantes".

A VERDADE, CÁ:



"Verifica-se que a própria Bíblia, da qual os cristãos depreendem as verdades da fé, não tem a mesma extensão ou o mesmo catálogo (cânon) entre católicos e protestantes. É notório que sete livros do Antigo Testamento (Tobias, Judite, Baruc, Eclesiástico ou Sirácida, Sabedoria, 1 e 2Macabeus), além de fragmentos de outros livros, se encontram na Bíblia dos católicos e não na dos protestantes. (...)



Os cristãos, desde o início da sua história, usaram a edição grega dos LXX [Setenta]. Os Apóstolos mesmos, escrevendo os Evangelhos e as suas cartas, referem o Antigo Testamento não segundo o texto hebraico, mas recorrendo à versão dos LXX. Das 350 citações do Antigo Testamento que ocorrem no Novo, 300 são tiradas do texto alexandrino (mesmo quando este diverse acidentalmente do hebraico; cf. Hb 10,5-7; Mt 1,23). Ora, os Apóstolos eram os guardas do depósito da fé. Por conseguinte, se a edição bíblica dos LXX (que continha os deuterocanônicos de permeio aos protocanônicos) fosse infiel ou deturpada, os Apóstolos não a teriam utilizado. O procedimento abalizado dos Apóstolos foi adotado pelas seguintes gerações de cristãos; o catálogo dos LXX devia assim tornar-se o catálogo dos cristãos; (...) ele representa a linha autêntica da fé judaica. (...)



Nos dois primeiros séculos [do Cristianismo], os deuterocanônicos eram considerados como 'Escritura' juntamente com os protocanônicos; não se encontra vestígio de dúvida a respeito de sua autoridade nem nas obras dos escritores cristãos nem nos monumento da arqueologia [Didaqué, Clemente de Roma, Epístola de Barnabé, Policarpo de Esmirna, Inácio de Antioquia, Justino de Roma, Atenágoras de Atenas, afrescos em catacumbas etc.]. (...)



A unanimidade da Tradição cristã concernente aos deuterocanônicos nos dois primeiros séculos é particularmente digna de nota pelo fato de que a Igreja não tomara decisão oficial a respeito do cânon das Escrituras Sagradas. (...)



A autoridade da Igreja proferiu definições oficiais do catálogo bíblico em concílios regionais realizados na África setentrional; assim, no de Hipona em 393, nos de Cartago III e IV, em 397 e 418. O Papa Inocêncio I, em uma carta dirigida a Exupério, bispo de Tolosa, em 450, apresentou também o cânon bíblico com seus livros deuterocanônicos todos. (...) Os cristãos orientais definiram seu catálogo bíblico, incluindo os deuterocanônicos no Concílio de Trulo em 692. (...) O Concílio de Florença, em 1441, professou solenemente o catálogo completo dos livros sagrados. O mesmo se deu com o Concílio de Trento aos 8 de abril de 1546. O Concílio do Vaticano I (1870) e o do Vaticano II (1965) reafirmaram a mesma definição, mantendo continuidade com os Apóstolos e os primeiros séculos do pensamento cristãos.



Através destes dados históricos, verifica-se com clareza: não foi o Concílio de Trento que introduziu na Bíblia os livros deuterocanônicos. Eles já estavam em uso comum na Igreja, tanto que Lutero, quando traduziu a Bíblia para o alemão em 1534 (antes do Concílio de Trento), não se furtou a verter também aqueles escritos; verdade é que os colocou em apêndice à sua edição, com o título de 'Apócrifos', isto é, livros que não devem ser estimados como a Escritura Sagrada, mas que são bons e se podem ler com utilidade" (BETTENCOURT, Estêvão Tavares. "Diálogo Ecumênico: Temas Controvertidos". Rio de Janeiro:Lumen Christi, 3ª ed., 1989, pp. 17-21).



Isso explica o porquê de tais livros já se encontrarem, inclusive, na Bíblia de Gutemberg, impressa cerca de 100 anos antes da Reforma Protestante, como demonstram as imagens ao longo desta seção (a Bíblia de Gutemberg pode ser acessada e integralmente consultada na Biblioteca Britânica, neste LINK.

AS SEMENTES DA VERDADE, LÁ:

I. Martinho Lutero incluiu os deuterocanônicos em sua tradução da Bíblia para o alemão, publicada em 1534 (como demonstra a seguinte imagem, da Bíblia de Lutero, que apresenta o início do livro de Tobias):



A Bíblia de Lutero não é "caso isolado". As primeiras Bíblias protestantes em inglês também traziam os deuterocanônicos, como se vê a seguir:

1. A "Bíblia de Tyndale" (também conhecida como "Bíblia de Matthews"), de 1537 a 1551:



2. A "Grande Bíblia" de Coverdale (também conhecida como "Bíblia de Cromwell" ou "Bíblia de Cranmer"), de 1539 a 1541:



3. A "Bíblia de Geneva" (usada pelos Puritanos que vieram para a América e citada milhares de vezes por Shakespeare), de 1560 a 1617:



4. A "Bíblia do Bispo" (publicada oficialmente pela Igreja Anglicana em resposta à "Bíblia de Geneva"), de 1568 a 1582:



5. A "King James Version", de 1611 em diante (só a partir de 1824 é que algumas editoras protestantes passam a omitir os deuterocanônicos de suas Bíblias):



II. "Na Igreja Primitiva as escrituras judaicas eram conhecidas, não em hebraico, mas numa tradução grega chamada 'Septuaginta', dos setenta (Septuaginta) anciãos que a tradição judaica ensina haver realizado a obra de tradução. (...) E a Bíblia grega não somente desordenou os livros da Bíblia hebraica; ela na realidade acrescentou outros livros não contidos na Bíblia hebraica, os chamados 'Apócrifos'. (...)

A grande Bíblia da Idade Média era a Vulgata, a tradução latina produzida por São Jerônimo quase no fim do quarto século (...) [A] ordem comum [dos livros] foi aquela finalmente fixada pela invenção da imprensa, pois o primeiro grande livro impresso foi a Bíblia latina de 42 linhas, produzida em Mainz por volta de 1456.

Mas a Bíblia latina já havia sido traduzida em alemão, na Boêmia, no quarto século, e em inglês por Wyclif e seus auxiliares em 1382-1388. Ambas essas traduções seguiram a ordem latina, tendo os livros Apócrifos espalhados por todo o Velho Testamento.

A nova tradução de Lutero para o alemão, terminada em 1534, foi baseada no hebraico e no grego. e quandpo ele havia terminado o Novo Testamento Grego (1522) e o Velho Testamento Hebraico, ainda permaneciam os livros das Bíblias antigas que se encontravam no Velho Testamento latino mas não no hebraico. Estes, Lutero traduziu por último, como os livros Apócrifos, agrupando-os pela primeira vez sob esse nome, e colocando-os no final do Velho Testamento. Esta foi uma excessiva reorganização dos livros do Velho Testamento - o maior passo jamais dado na reorganização da ordem dos livros da Bíblia, mas que nunca vingou. (...)

Esses livros associaram-se no Egito aos livros do Velho Testamento já traduzidos e assim passaram a fazer parte do Velho Testamento grego, a chamada Versão dos Setenta. E, quando esta versão tornou-se a Bíblia da Igreja Primitiva, esses livros vieram com ela.

Assim os livros Apócrifos, como costumeiramente são chamados, espalharam-se através da Bíblia grega da Igreja Primitiva, e daí passaram para a Bíblia latina antes e depois do trabalho de revisão de Jerônimo. Eles passaram naturalmente, como já vimos, para a primitiva tradução germânica da Bíblia latina, feita na Boêmia, no século catorze, e também para a tradução inglesa feita por Wyclif e seus auxiliares em 1382-88. (...)

Há perigo em ficar-se com uma falsa apreciação da história religiosa cristã e judaica se tentarmos passar diretamente do Velho Testamento [hebraico] ao Novo omitindo os livros Apócrifos. Eles fizeram parte dos fundamentos literários do movimento cristão. Eles nos introduzem a personagens dramáticas do Novo Testamento - santos e pecadores, fariseus e saduceus, anjos e demônios. Sua influência se exerceu em cada livro do Novo Testamento. Talvez o que de mais instrutivo eles têm para nós é o contraste entre a atitude cristã e farisaica que eles mesmos fizeram possível" (GOODSPEED, Edgar J. [Metodista]. "Como nos Veio a Bíblia?". São Paulo:Imprensa Metodista, 3ª ed., 1981).

"A palavra 'Apócrifo' (...) se refere aos livros que em certa época foram cogitados para integrar o cânon do Velho Testamento. Embora nenhum deles tenha sido aceito na Palestina como parte do cânon hebraico das Escrituras, foram mantidos juntos dos rolos das Escrituras gregas da Septuaginta.

Os primeiros cristãos encontraram esses livros quando adotaram a Septuaginta como sua Bíblia e os incluíram nela" (BATCHELOR, Mary [Protestante]. "A Bíblia em Foco: introdução passo a passo aos livros sagrados".São Paulo:Melhoramentos, 1ª ed., 1995, p. 96).

"A Septuaginta (LXX), tradução do Antigo Testamento em grego, feita entre 280 a.C. e 180 a.C., contém os Apócrifos. (...)

[A Septuaginta] é, talvez, a mais importante das versões, por sua data antiga e influência sobre outras traduções. (...) 'Septuaginta' significa 'setenta'. A abreviação desta versão é LXX. Ela é às vezes chamada de 'Versão Alexandrina', por ter sido traduzida na cidade de Alexandria, no Egito. (...) Além dos 39 livros do Antigo Testamento, ela contém todos, ou parte, dos 14 livros conhecidos como Apócrifos. A Septuaginta foi comumente utilizada nos dias do Novo Testamento e mostrou-se muito útil em traduções subseqüentes" (DUFFIELD, Guy P.; VAN CLEAVE, Nathaniel M. [Protestantes Pentecostais]. "Fundamentos da Teologia Pentecostal", Volume 1. São Paulo:Marli de Souza, 1ª ed., 1991, pp. 11 e 44).

"O vocabulário 'Apócrifo' (...) aplica-se genericamente a uma série de livros surgidos no período entre o Antigo e o Novo Testamento. Os livros apócrifos (...) chegaram até nós de certo modo unidos aos livros canônicos da Bíblia. (...) Os judeus da dispersão no Egito revelaram alta estima por esses escritos e os incluíram na tradução do Antigo Testamento para o grego, chamada 'Septuaginta'. (...)

Segundo o escritor Aristeas, a tradução grega [do Antigo Testamento hebraico] foi feita por setenta e dois sábios judeus (daí o seu nome 'Septuaginta'), na cidade de Alexandria, a partir de 285 a.C., a pedido de Demétrio Falario, bibliotecário do rei Ptolomeu Filadelfo. Concluída 39 anos mais tarde, essa versão assinalou o começo de uma grande obra que, além de preparar o mundo para o advento de Cristo, deveria tornar conhecida de todos os povos a Palavra de Deus. Na Igreja Primitiva, era essa a versão conhecida de todos os crentes" (AUTORES VÁRIOS, "Bíblia de Referência Thompson" [Protestante]. São Paulo:Vida, 1ª ed., 1996, pp. 1375 e 1377).

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

O TÍTULO MARIANO "MÃE DE DEUS"

A ACUSAÇÃO COMUM:

"A Igreja Católica se equivoca ao atribuir o título de 'Mãe de Deus' a Maria, mãe de Jesus".

A VERDADE, CÁ:


"Maria é verdadeiramente Mãe de Deus porque é a mãe de Jesus (Jo 2,1;
19,25). Com efeito, Aquele que foi concebido por obra do Espírito Santo e que se
tornou verdadeiramente Filho de Maria é o Filho eterno de Deus Pai. É Ele mesmo
Deus" (Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, Parte I, Seção II, Capítulo
II, nº 95).

AS SEMENTES DE VERDADE, LÁ:

"Não se deve adorar somente o Cristo? Mas não se deve honrar também a Santa Mãe de Deus? Esta é a mulher que esmagou a cabeça da serpente. Ouve-nos, pois o Filho te honra; Ele nada te nega. Bernardo foi longe demais ao comentar o Evangelho... Só a respeito de Cristo está dito: 'Ouvi-o' e: 'Eis o Cordeiro de Deus'... Isto não foi dito a propósito de Maria, nem dos anjos, nem de Gabriel" (Martinho Lutero, cf. Weimar, tomo 51, pg. 128s).

"A mesma amantíssima Mãe de Deus queira obter a graça para mim, a fim de que possa expor o seu cântico com proveito e profundidade" (Martinho Lutero, cf. Weimar, tomo 7, pg. 545).

"Por justiça teria sido necessário encomendar-lhe um carro de outro e conduzi-la com 4000 cavalos, tocando a trombeta diante da carruagem, anunciando: 'Aqui viaja a mulher bendita entre todas as mulheres, a soberana de todo o gênero humano'. Mas tudo isso foi silenciado; a pobre jovenzinha segue a pé, por um caminho tão longo, e apesar disso, é de fato a Mãe de Deus. Por isso não nos deveríamos admirar, se todos os montes tivessem pulado e dançado de alegria. (...) Esta única palavra 'mãe de Deus' contém toda a sua honra. Ninguém pode dizer algo de maior dela ou exaltá-la, dirigindo-se à ela, mesmo que tivessem tantas línguas quantas folhas crescem nas folhagens, quantas graminhas há na terra, quantas estrelas brilham no céu e quantos grãozinhos de areia existem no mar. Para entender o significado do que é ser Mãe de Deus, é preciso pesar e avaliar esta palavra no coração" (Martinho Lutero, Explicação do Magnificat).

"Não podemos reconhecer as bençãos que nos trouxe Jesus, sem reconhecer ao mesmo tempo quão imensamente Deus honrou e enriqueceu Maria, ao escolhê-la para Mãe de Deus" (João Calvino, Comm. Sur l'Harm. Evang. 20).

"Estimo grandemente a Mãe de Deus, a Virgem Maria perpetuamente casta e imaculada" (Ulrico Zwínglio, ZO 2,189).

"Cremos que o corpo puríssimo da Virgem Maria, Mãe de Deus é templo do Espírito Santo... foi levado pelos anjos ao céu" (Heinrich Bullinger [Zwingliano]).

"Ser Mãe de Deus é uma prerrogativa tão alta, coisa tão imensa, que supera todo e qualquer intelecto" (Basilea Schlink [Luterana], Comentário ao Magnificat).

"Por que um cristão evangélico pode ter o direito de ignorar tais realidades pelo fato de se apresentarem na Igreja Católica e não na sua comunidade religiosa? Tais fatos não deveriam, ao contrário, levar-nos a restaurar a figura da Mãe de Deus na Igreja Evangélica? Somente Deus pode permitir que Maria se dirija ao mundo, através de aparições" (Manifesto de Dresden - Maio/1982 [redigido por teólogos luteranos]).

"Existem quatro dogmas marianos aceitos na Igreja romana: o dogma da Maternidade Divina, a Virgindade Perpétua, a Assunção e a Imaculada Conceição. Estes dogmas são, via de regra, e em bloco, questionados pelas denominações protestantes mais jovens. Contudo, a medida em que retrocedemos no tempo, quase todos são compreendidos e aceitos, se lidos dentro de uma outra ótica. Quanto ao primeiro dogma, o da Maternidade Divina, ele é recebido sem qualquer dúvida, por todas as Igrejas da primeira Reforma (Anglicanos, Luteranos e Calvinistas) quando lido dentro do seu contexto original. A compreensão reformada entende que a fórmula 'teotokos' surgiu dentro de um debate cristológico e não mariológico. Assim sendo, as Igrejas da Reforma não possuem qualquer dificuldade de acreditar, e proclamar, que Maria não foi mãe de mero homem, mas Mãe de Deus. Ela não levava em seu ventre alguém que possuía apenas a natureza humana, mas era Portadora de Deus. O Verbo divino repousava em seu ventre. (...) Lamentamos que a figura da Virgem Maria seja completamente e deliberadamente esquecida na maioria das comunidades que surgiram em decorrência da Reforma protestante do século XVI. É nossa convicção, no entanto, que a Bem-aventurada Virgem Maria ocupa um lugar especial na Comunhão anglicana. Ela é honrada como Bem-aventurada; honrada como Virgem e como Mãe de Deus" (Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, Diocese de São Paulo, Paróquia de São João; artigo: Maria na tradição da Igreja Anglicana [Acessado em 18.12.2008]).

"Sou protestante presbiteriano tradicional, calvinista. Fui criado arminista, batista. Depois que conheci a fé calvinista, passei a ser membro da Igreja Presbiteriana Tradicional. No primeiro culto que assisti, o reverendo pregou sobre as virtudes de Maria. Nós, reformados, não sofremos de 'mariite', inflamação que provoca sintomas cerebrais contra Maria. Nós amamos Maria, consideramo-la Santa, Pura e o maior exemplo a ser seguido. Aceitamos a idéia de Mãe de Deus, pois ela gerou um Homem/Deus" (Milton Junior [Presbiteriano], cf. Veritatis Splendor [acessado em 18.12.2008]).

"Muitos evangélicos têm objetado ao uso do termo 'mãe de Deus', como se o Concílio de Calcedônia estivesse ensinando que Maria é mãe da Trindade. Nada está tão longe da verdade quanto essa errônea interpretação. O título 'mãe de Deus' (Theotókos, literalmente 'portadora de Deus') não foi dado em razão de Maria, mas em razão de Jesus Cristo. A ênfase está nele, não nela. O título quer dizer que ele é Deus, o que expressa uma verdade bíblica crucial. Maria portou em seu ventre aquele que, com o Pai e com o Espírito Santo, é um só Deus, agora e sempre. Ele fez-se homem sem deixar de ser Deus.
O termo 'Theotokos' foi inspirado nas seguintes palavras de Isabel, mãe de João Batista, dirigidas a Maria: 'Mas por que sou tão agraciada, a ponto de me visitar a mãe do meu Senhor?' (Lc 1.43). O termo 'Senhor' aponta para a divindade de Jesus Cristo (...). Aquele que estava no ventre de Maria, a quem ela amamentou e de quem cuidou, era o 'Deus conosco' (Mt 1.23), verdadeiro Deus e verdadeiro homem. O termo 'Theotokos' aponta para essa confissão de fé cristológica.
Cabe lembrar que o termo 'Deus' pode ser aplicado a cada pessoa da Santíssima Trindade. Sendo assim, se Jesus é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, não há impropriedade em afirmar que Maria foi, de fato, mãe de Deus, ou seja, de Deus Filho, do Verbo encarnado. (...)" (Aldo Menezes [Batista], livro "Por que Abandonei as Testemunhas de Jeová", ed. Vida, pág. 347, nota 9).