Veritas Ipsa

domingo, 21 de dezembro de 2008

IMAGENS DE ESCULTURA

A ACUSAÇÃO COMUM:

A Igreja Católica é idólatra porque possui em seus recintos imagens de escultura, as quais foram proibidas pelo 2º Mandamento da Lei de Deus (Êxodo 20).

A VERDADE, CÁ:



"O [1º] Mandamento divino incluía a proibição de toda representação de Deus por mão do homem. O Deuteronômio explica: 'Uma vez que nenhuma forma vistes no dia em que o Senhor vos falou no Horeb, do meio do fogo, não vos pervertais, fazendo para vós uma imagem esculpida em forma de ídolo...' (Dt 4,15-16). Eis aí o Deus absolutamente transcendente que se revelou a Israel. 'Ele é tudo' mas, ao mesmo tempo, ele está 'acima de todas as suas obras' (Eclo 43,27-28). Ele é 'a própria fonte de toda beleza criada' (Sb 13,3).

No entanto, desde o Antigo Testamento [o próprio] Deus ordenou ou permitiu a instituição de imagens que conduziriam simbolicamente à salvação através do Verbo encarnado, como são a serpente de bronze (cf. Nm 21,4-9; Sb 16,5-14; Jo 3,14-15), a arca da aliança e os querubins (cf. Ex 25,10-22; 1Rs 6,23-28; 7,23-26).

Foi fundamentando-se no mistério do Verbo encarnado que o sétimo Concílio ecumênico, em Nicéia (em 787), justificou, contra os iconoclastas, o culto dos ícones: os de Cristo, mas também os da Mãe de Deus, dos anjos e de todos os santos. Ao se encarnar, o Filho de Deus inaugurou uma nova 'economia' de imagens.



O culto cristão de imagens não é contrário ao primeiro mandamento que proíbe os ídolos. De fato, 'a honra prestada a uma imagem se dirige ao modelo original' (São Basílio, Spir. 18,45), e 'quem venera uma imagem, venera nela a pessoa que nela está pintada' (II Concílio de Nicéia, DS 601; cf. Concílio de Trento, DS 1821-1825; Concílio Vaticano II, SC 126, LG 67). A honra prestada às santas imagens é uma 'veneração respeitosa', e não uma adoração, que só compete a Deus:

'O culto da religião não se dirige às imagens em si como realidades, mas as considera em seu aspecto próprio de imagens que nos conduzem ao Deus encarnado. Ora, o movimento que se dirige à imagem enquanto tal não termina nela, mas tende para a realidade da qual é imagem' (S. Tomás de Aquino, Suma Teológica 2-2,81,3,ad 3)" (Catecismo da Igreja Católica, §§ 2129-2132).

AS SEMENTES DA VERDADE, LÁ:

I. "Na primavera de 1522 aconteceu, em Wittenberg, o início de uma das maiores catástrofes na história da humanidade. O conselho da cidade determinara a retirada das imagens das igrejas. Quando se começou a executar a decisão dos conselheiros municipais, a multidão reunida na frente da igreja da cidade invadiu o templo, arrancou as imagens das paredes, quebrou-as e terminou por queimar tudo do lado de fora. Em questão de minutos, uma paixão brutal destruiu o que para gerações de cristãos fora objeto de veneração religiosa. (...) Onde os iconoclastas passaram, os templos ficaram como lavouras após uma chuva de granizo. (...)

Igual a uma epidemia o iconoclasmo se alastrava por todas as regiões. (...) E o mais interessante é que são poucos os historiadores que se referem a ele, permitindo que o iconoclasmo continue a ser praticado até os nossos dias. (...) O terrível disso tudo é que cristãos, munidos de machados e martelos, se levantaram contra objetos sacros, em locais consagrados, ante os quais até há pouco se haviam ajoelhado. (...) Cristãos destruíram a linguagem da imagem que durante séculos havia orientado os cristãos. E o culpado pela destruição não foi o povo, mesmo que ele tenha realizado a ação; os culpados foram os pregadores que, a partir do púlpito, incitaram ao iconoclasmo. (...)

O mentor intelectual do iconoclasmo em Wittemberg foi Andreas Bodenstein, de Karlstadt. (...) Ardoroso em sua maneira de ser, mas falho no tocante à reflexão sobre a consequência de seus atos, Karlstadt assumiu a direção do movimento reformatório em Wittemberg enquanto Lutero se encontrava no Wartburgo. (...) No inverno de 1521/22, [Karlstadt] escreveu e publicou livreto com o título 'Da Eliminação das Imagens'. O livro é diminuto, tem poucas páginas, mas teve grandes consequências, provocando a destruição de muitas obras-de-arte. Segundo Karlstadt, não se pode tolerar imagens nas igrejas, pois afrontam o primeiro mandamento. Os 'ídolos de óleo' colocados sobre os altares, são invenção do demônio. Karlstadt tomou posição não somente contra esculturas, mas contra pinturas, a nova tendência na arte do Renascimento e da Reforma. (...) Há autores que consideram Karlstadt o primeiro puritano. Assim, o emergente puritanismo seria responsável pelo iconoclasmo. (...)

Um outro momento parece ser importante para entender a onda iconoclasta: o biblicismo. (...) Na Reforma se expressou a convicção de que somente a palavra havia de vencer. (...) Para o mundo da Reforma, que tomava o cristianismo primitivo como norma e exemplo, não podia haver lugar para a imagem. Não é de se admirar que parte considerável do protestantismo tenha assumido as concepções de Karlstadt e que Calvino tenha em sua 'Institutas' um capítulo dedicado a todos os argumentos que podem ser usados contra as imagens. (...)

Quais as consequências desse fato? O século XVI não mais entendeu a linguagem das imagens e, por isso, as destruiu, produzindo consequências caóticas e cegueira. (...) Com a retirada das imagens do interior das igrejas protestantes destruiu-se o pensamento simbólico tão constitutivo para o cristianismo. E o pensamento simbólico é pensamento religioso propriamente dito. É na linguagem simbólica que se expressa a experiência do espiritual. Quando essa forma de pensamento não-conceitual deixa de ser usada ou é ridicularizada, produz-se a destruição de uma das disposições religiosas do ser humano. Quando se destruíram as imagens, destruiu-se o elemento que deixa o que é cristão transformar-se em sentimento.

A imagem provoca e confirma o pensamento simbólico, sem o qual não se pode imaginar religiosidade viva. Observando imagens religiosas aprendemos a sentir simbolicamente. A melhor forma de introduzir crianças no mundo de concepções cristãs é através de imagens. Quando aprendemos a ver a imagem apenas como 'ídolo', destruímos a percepção para o pensamento simbólico. (...) Quando o ser humano não é mais capaz de pensar e de ver símbolos em uma tradição cristã viva, sua consciência religiosa fica esclerosada. (...)

No início, Lutero tinha dificuldades com as imagens e afirmava que seria melhor se não existissem. (...) Mas quando Karlstadt deu início à onda iconoclasta, nela nada mais viu do que vandalismo, que estava prestes a destruir a liberdade evangélica e a reintroduzir a lei. Por isso, Lutero passou pouco depois a afirmar que imagens são memoriais e testemunhos e como tais devem ser toleradas. Além disso, chegou a afirmar que, se pudesse, mandaria pintar toda a Bíblia dentro e fora das casas. Sua postura em favor da pintura e das imagens tornou-se mais do que evidente desde a publicação dos catecismos (1529).

As imagens movem a fé das crianças e dos simples. A fé cristã não se dirige, para ele, apenas aos ouvidos, mas também aos olhos das pessoas. (...) A arte sacra deve ser meditada, e meditação não é pensamento lógico. Meditar é silenciar para que Deus possa falar. Nos últimos 500 anos, em razão do iconoclasmo, o pecado humano não tem deixado Deus falar; só fala o homem" (DREHER, Martin N. "Coleção História da Igreja", vol. 3. São Leopoldo:Sinodal, 1ª ed., 1996, págs. 53-57).

II. Diversas denominações cristãs expõem para seus fiéis imagens de escultura, como podemos verificar em alguns exemplos:

1. Crucifixo de parede ortodoxo (comercializado pela The Celtic Rebel)



2. Igreja Luterana Cordeiro de Deus (Pleasant Prairie, WI, EUA) - Jesus recebendo o batismo de S. João Batista



3. Igreja Luterana Cristo Ressuscitado (Colorado, EUA) - Crucifixo perpétuo sobre o altar



4. Igreja Anglicana de Todos os Santos (Melbourne, Austrália) - Cristo crucificado tendo ao seu lado sua Mãe Maria e seu discípulo amado João Evangelista



5. Sede da Conferência Geral da Igreja Adventista do Sétimo Dia (Toronto, Canadá) - A Volta de Cristo (cf. Revista Adventista, de Agosto de 2000)



6. Sede da Conferência Geral da IASD (Toronto, Canadá) - Cristo Rei ressuscitado - Revista Adventista (ago/2000)



7. Templo Mórmon (Salt Lake City, UT, EUA) - Estátua de um anjo sobre o templo - Revista "Despertai" (08.11.1995)



III. Conforme o "Minidicionário Soares Amora da Língua Portuguesa" (São Paulo:Saraiva, 18ª ed., 2008):



- IMAGEM = "1. Figura que representa uma pessoa ou um objeto por meio de desenho, pintura, escultura, etc.; 2. Estampa que representa ordinariamente um assunto religioso; 3. Reflexo no espelho, na água, numa superfície polida; 4. Símbolo, figura".

- ESCULTURA = "1. Arte [humana] de esculpir, estatuária; 2. Obra de escultor".

- ESCULPIR = "1. Gravar, entalhar; 2. Deixar gravado, imprimir".

A partir destes simples conceitos objetivos, é possível afirmar categoricamente que até mesmo uma simples cruz (sem a imagem do crucificado) - confeccionada por arte humana em madeira, ferro ou qualquer outro material que proporcione uma visão em 3ª dimensão (isto é, com altura, largura e profundidade) - pode ser considerada como uma autêntica e legítima "imagem de escultura".

Neste sentido, boa parte das denominações cristãs (inclusive as acima exemplificadas) ostentam esta simples imagem de escultura à vista de todos os seus fiéis:

1. Culto público em uma Igreja Universal do Reino de Deus (Vera Cruz, México)



2. Culto público em uma Igreja Metodista (Ubatuba-SP, Brasil)



3. Culto público em uma Igreja Presbiteriana (Bebedouro-Arazede, Portugal)



4. E, para fechar com chave de ouro: Cruz decorada para culto de Páscoa na 1ª Igreja Congregacional de Webster Groves (EUA)



e os exemplos poderiam se multiplicar ao infinito...